Segundo Martin Heidegger, “metafísica” é o cerne do filosofar, marcado pelo esquecimento do ser. Tendo privilegiado o ente (conjunto de todos os seres), procurando-lhe a região suprema, toda a filosofia foi destinada a ignorar a pergunta explícita pelo ser. “Qual é o sentido de ‘ser’?”, pergunta a obra principal de Heidegger, Ser e tempo. Essa pergunta é diferente da pergunta “O que é ser?”, cujo formato levaria a confundir ser com ente. De um ente podemos dizer o que é, dar- -lhe definição, encontrar suas características; mas ser não tem características, é indefinível, não se reporta a nenhum gênero – e, mesmo assim, seu significado parece óbvio. Todos sabemos o que ser significa, mas ninguém pode dizer algo a respeito.
Com base nisso, o primeiro parágrafo da obra mencionada aduz os três grandes preconceitos por meio dos quais a filosofia ter-se-ia dispensado de investigar o ser. São eles: ser é maximamente universal, e por isso não podemos conhecê-lo (já que conhecer algo seria dizer a que gênero pertence e qual a diferença que o especifica); ser é indefinível; ser é evidente por si mesmo em todo comportamento humano. Em contrapartida, o pensador alemão afirma: da máxima universalidade só descobrimos que ser não é ente; da indefinibilidade somente descobrimos que o discurso sobre ser não é o da definição, não é a linguagem a que estamos habituados no senso comum ou nas ciências, uma vez que estas tratam dos entes; da evidência do significado de ser em todo comportamento descobrimos a tarefa de dar fundamento a essa evidência, já que sabemos sem nada poder dizer, isto é, sabemos sem saber.
Partindo do enunciado e de seus conhecimentos, assinale a alternativa INCORRETA.
A forma “o que é x?” corresponde a investigações sobre entes; a obra principal de Heidegger pergunta o que é o ser.
A obra principal de Martin Heidegger é um tratado filosófico que compreende a filosofia que o precede como metafísica, e esta, como investigação sobre o ente, em detrimento do ser.
A metafísica dispensou-se de investigar o ser alegando sua máxima universalidade, indefinibilidade e evidência; Heidegger responde a esses preconceitos a partir da diferença entre ente e ser.
A pergunta pelo ser difere de toda pergunta por ente; os entes têm determinações, características, sejam “reais” ou não, e cabe perguntar o que são. Mas, quanto ao ser, esse modo de perguntar é um equívoco.
A diferença entre ser e ente implica que a filosofia, a qual pergunta pelo ser dos entes e não pelo ser ele mesmo, toca a questão do ser constantemente, sem enfrentá-la explicitamente.