O diálogo a seguir serve de base para responder às questões 07 e 08. Leia-o com atenção.
LENTZ — Até agora não vejo probabilidade da raça negra atingir a civilização dos brancos. Jamais a África ...
MILKAU — O tempo da África chegará. As raças civilizam-se pela fusão; é no encontro das raças adiantadas com as raças virgens, selvagens, que está o repouso conservador, o milagre do rejuvenescimento da civilização. O papel dos povos superiores é o instintivo impulso do desdobramento da cultura, transfundindo de corpo a corpo o produto dessa fusão que, passada a treva da gestação, leva mais longe o capital acumulado nas infinitas gerações. Foi assim que a Gália se tornou França e a Germânia, Alemanha.
LENTZ — Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e quedas. Enquanto não se eliminar a raça que é o produto de tal fusão, a civilização será sempre um misterioso artifício, todos os minutos rotos pelo sensualismo, pela bestialidade e pelo servilismo inato do negro. O problema social para o progresso de uma região como o Brasil está na substituição de uma raça híbrida, como a dos mulatos, por europeus. A imigração não é simplesmente para o futuro da região do País um caso de simples estética, é antes de tudo uma questão complexa, que interessa o futuro humano.
ARANHA, G. (1868-1931). Canaã. 3 ed. São Paulo: Martins Claret, 2013.
O pré-modernismo não é considerado um estilo de época, pois apresenta uma multiplicidade de temáticas. É entendido como um período literário brasileiro que faz a transição entre o simbolismo e o modernismo. Por isso, é possível encontrar, nas obras dessa época, características de estilos passados, como parnasianismo, realismo, naturalismo e simbolismo.
O fragmento de Canaã em que há predomínio de traços característicos do movimento simbolista é
“Pelas frestas das árvores, pela transparência das folhas, desce uma claridade discreta, e nessa suave iluminação se desenrola dentro do mato o cenário pomposo das cores. Elas são em si vivas e quentes, mas a gradação da sombra, que ora avança, ora se afasta, comunica-lhes da negrura do verde ao desmaio do branco a matização completa e triunfal.”
“Era um grande ajuntamento de colonos da região. Alguns estavam ali havia trinta anos, e a sua pele era amarela, encolhida como pergaminho; outros ainda eram louros e jovens. Trajavam as suas melhores roupas, o que fazia também uma mistura de modas de muitas épocas, conservada religiosamente em trajes que se não acabavam mais.”
“— Era preciso formar-se do conflito de nossas espécies humanas um tipo de mestiço, que se conformando melhor com a natureza, com o ambiente físico, e sendo a expressão das qualidades médias de todos, fosse o vencedor e eliminasse os extremos geradores. Perfeito ..."
“Os dois brasileiros interessavam-se ardentemente por esses contos vindos de um mundo desconhecido e que lhes sugeriam a reminiscência de tantas outras histórias europeias a eles transmitidas e adulteradas pelos povos brancos, primeiros geradores da sua raça mestiça”.
“Enquanto a conversação se ia desenrolando mansamente, viram passar pelo caminho, à beira do rio, um velho muito alto e magro, armado de espingarda e carregando um animal morto a gotejar sangue pelas feridas, que Joca declarou ser uma paca."[...]