Enquanto, em Paris, a guilhotina decepava as cabeças dos jacobinos, em São Domingos [Jean-Jacques] Dessalines e seus companheiros continuavam a defender, de armas na mão, o ideal jacobino da liberdade e igualdade de todos os homens. [...]
A 29 de novembro de 1803, os revolucionários negros divulgaram uma declaração preliminar de Independência. A 31 de dezembro, foi lida a Declaração de Independência definitiva. O novo Estado recebeu, no batismo, a denominação indígena de Haiti.
Dessalines se tornou o primeiro chefe de Estado haitiano [...]. Começou a governar com as bençãos dos capitalistas ingleses e americanos [...].
Os ex-escravos, por sua vez, viram-se definitivamente livres do trabalho compulsório nas plantações de cana e nos engenhos de açúcar. [...] O Haiti saiu do mercado mundial do açúcar e eliminou a possibilidade de progredir em direção a um nível econômico superior. De colônia mais produtiva das Américas passou a país independente pauperizado e fora de um intercâmbio favorável na economia internacional.
(Jacob Gorender. “O épico e o trágico na história do Haiti”. In: Estudos Avançados, no 50, 2004.)
O excerto apresenta um aspecto central da independência do Haiti, em 1803-1804:
a articulação entre o processo revolucionário na França e a revolução negra do Haiti.
o crescimento econômico acelerado do país, alcançado após a obtenção da autonomia política.
a manutenção, no pós-independência, da estrutura socioeconômica do período colonial.
a construção, no pós-independência, do primeiro Estado indígena latino-americano.
o apoio do governo francês de Napoleão Bonaparte à luta autonomista dos escravizados do Haiti.