A questão refere-se ao texto “Menino do Acre talvez seja uma das maiores empulhações da história ‘mística’ do Brasil”
Menino do Acre talvez seja uma das maiores empulhações da história “mística” do Brasil
O estudante de Psicologia de 25 anos é produto de uma grande jogada de marketing que nem precisou de um Washington Olivetto para criá-la
[1] O “Menino do Acre” talvez fique na história como uma das grandes empulhações brasileiras, e a mídia, certamente para obter
[2] audiência e acesso, se não está endossando diretamente, está sendo conivente com as trapalhadas e enganações do estudante de
[3] Psicologia Bruno Borges, de 25 anos.
[4] A Argentina tem Jorge Luis Borges. O Brasil contenta-se com Bruno Borges, o pós-adolescente fujão, que ficou desaparecido durante
[5] algum tempo, alegando que estava em busca do conhecimento. (...) Suas ideias sobre filosofia e alquimia são lorota pura. Ao
[6] desaparecer, o que o jovem estava buscando? “Busquei o autoconhecimento. Na alquimia, dizemos que o operador procede em busca
[7] da pedra filosofal”, afirma. O que isso quer dizer? Nada. É pura platitude, embromação. Qualquer livro primário discute o assunto de
[8] maneira mais densa.
[9] Bruno Borges diz que está articulando um projeto para mudar a vida das pessoas. Porém, não explica o que é, exceto que se trata de
[10] “despertar para o mundo do conhecimento” e para a “investigação da verdade”. O poeta Goethe, que se considerava alquimista, e o
[11] filósofo Nietzsche são precisos ao discutir temas sobre os quais o estudante apenas roça, possivelmente depois da leitura, não de livros
[12] científicos, e sim de obras místicas – talvez de terceira categoria ou sem categoria alguma. [13] Questionado, Bruno Borges, o nosso Borges “détraqué”, sustenta que seu projeto é “uma missão”. O projeto e a missão, a rigor, não
[14] são expostos de maneira cabal (anticientífico, ele avalia que não é preciso demonstrar); eventualmente, o Menino do Acre trata do
[15] tema de maneira elíptica, como se não soubesse do que está falando ou então estaria sonegando alguma coisa de caráter seminal, que
[16] ainda não pode ser dita, sobretudo para os não-iniciados.
[17] Espécie de Policarpo Quaresma da filosofia, vá lá, ou da alquimia, vá lá, Bruno Borges sugere que está buscando “a verdade da vida”.
[18] Entretanto, suas frases são ocas, as ideias são uma mistureba de frases de efeito e “conceitos” mal digeridos. (...) O que dizer de um
[19] garoto que diz que conseguiu “lapidar a pedra filosofal”? A única coisa que parece ter lapidado de verdade foi a paciência de jornalistas
[20] e de leitores e telespectadores e sua própria cara de pau. (...) Ele fala em fé, o que sugere que é, claro, um místico – e não um cientista
[21] precoce, ao estilo de Darwin e Richard Dawkins. Mas certamente não chega aos pés de Antônio Conselheiro e do Padre Cícero.
[22] Há místicos que buscam o autoconhecimento durante anos e, às vezes, nada encontram. Pois o Menino do Acre, em apenas dois meses
[23] e sem pesquisas detidas e rigorosas, alcançou seus objetivos, sua realização espiritual. Você leu certo: dois meses! O garoto deveria
[24] ser preparado pelos grandes laboratórios para “descobrir” um medicamento que “cure” os pacientes que têm Aids. Seria um portento.
[25] É possível que, depois de quatro meses, o Menino do Acre poderia se candidatar ao Prêmio Nobel de Medicina ou, quem sabe, de
[26] Literatura – tal o poder de sua imaginação. Ou seja, se ele terminar os dias escrevendo autoajuda ou ficção científica, nem Paulo
[27] Coelho, o esperto-expert em tudo, ficará surpreso. (...)
[28] O Quase-Adulto do Acre revela: “Alguns livros”, dos 14, “talvez mereçam permanecer ocultos”. Certos livros deveriam ser
[29] qualificados como terrorismo ecológico – um atentado às florestas –, então, talvez seja melhor que fiquem ocultos. O Menino do Acre
[30] talvez seja a jogada de marketing mais bem urdida dos últimos anos, e sem a colaboração de Duda Mendonça e Washington Olivetto.
[31] (...) No final da entrevista, tão impressionado quanto um conto de Borges é impressionante, o bom, o da Argentina, o Menino do Acre
[32] ensina aquilo que nem Marilena Chauí (...) é capaz de ideologizar: “Por mais que as pessoas não percebam, a partir de agora, o
[33] conhecimento será mais valorizado. Quanto mais conhecimento você tiver, mais influente será na sociedade”. Ora, o que surpreende
[34] é que o Menino do Acre parece não ter conhecimento algum, ao menos de maneira consistente e sistemática, e, mesmo assim, está se
[35] tornando tremendamente influente, inclusive concedendo entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, e à maior revista semanal do país,
[36] a “Veja”. Não é pouca coisa, não. (...)
[37] Fico na dúvida, filosófica: o Menino do Acre fica melhor no papel de alienista, de alienado ou os dois? Ah, o modo como mesmerizou
[38] o país, atraindo jornalistas de todas as plagas, alienados mesmo somos nós, que, quem sabe, esperamos o Messias, ainda que na forma
[39] de um Borges piorado e sem “O Aleph”. Borges, o “Adulto Portenho”, talvez esteja certo ao ecoar Marco Polo: “O real não é mais
[40] verdade do que o inventado”.
(BELÉM, Euler de França. Menino do Acre talvez seja uma das maiores empulhações da história “mística” do Brasil. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/menino-do-acre-talvez-seja-uma-das maiores-empulhacoes-da-historia-mistica-do-brasil-102864/. Adaptado. Acesso em 01 set. 2017)
Sobre o texto “Menino do Acre talvez seja uma das maiores emplhações da história “mística” do Brasil” e as expressões que o compõem, é incorreto afirmar:
Platitude é a característica do que é regular ou monótono, é o caráter do que ou de quem possui qualidade medíocre ou sem expressão. Assim, quando afirma que “É pura pIatitude, embromação” (linha 7), o autor reforça a ideia de que a fala do Menino do Acre é infundada e que não merece credibilidade.
Seminal é aquilo que é relativo a sêmen ou a semente. Assim, por analogia, a afirmação de que “estaria sonegando alguma coisa de caráter seminal” (linha 15) indica que o Menino do Acre poderia estar escondendo algo que é novo ou tem origem desconhecida.
Portentosa é a pessoa que demonstra especial talento. Portento, desse modo, significa coisa ou fato extraordinário.Assim, ao afirmar que “'descobrir' um medicamento que 'cure' os pacientes que têm Aids” (linha 24) seria “um portento” (linha 24), o autor ironiza a competência científica do Menino do Acre e sugere que tal feito é altamente improvável.
Com um rol de possíveis significados, urdido tanto significa dispor fios para tecer, entrelaçar, quanto diz respeito a criar, fantasiar, tramar ou maquinar. Assim, a construção “O Menino do Acre talvez seja a jogada de marketing mais bem urdida dos últimos anos” (linhas 29 e 30) mostrou-se apropriada no contexto, pois reforça a postura do autor de que toda a história envolvendo o Menino do Acre trata-se, na verdade, de uma trama ou enganação.
Derivado de plágio, o substantivo plaga indica algo de fonte duvidosa ou que merece incredulidade. Assim, o uso de “atraindo jornalistas de todas as plagas” (linha 38) denota que o assunto foi noticiado por todo o tipo de jornalista, tanto os éticos quanto os antiéticos.